segunda-feira, 12 de março de 2018

PROSA REFLEXIVA

Não aprendi a viver. Estou à beira dos sentimentos e das coisas, tudo me é aquilo e basta, é aquilo e morre. É !
Sou um animal que vive a beira do mundo, das falas e dos desejos... sou selvagem. Me aplico a ausência do ser, pois sei SER e não a ESTAR. Estar é preencher-se de tudo que o cerca e caminhar por entre os perturbadores e lhes sorrir. Ser é estar intimamente ligado a si mesmo e tudo brota e morre no mesmo peito que alimenta e gesta.
Sou, sou..., e nunca estou...
Me dou as bichos por instinto e devoção, já que o estado do meu ser nos assemelha. Não sei dizer... não sei viver na companhia dos agregados que me alinham ao tempo e a ancestralidade dos seres. Sou e basta, sou e morro, sou... e sendo esta selvageria atônita, fugo ao tempo e as sentinelas.
Houve um tempo que viver era teatral... se ensina a reproduzir os ensejos da vida humana para que o corpo-casa alinha-se ao desejo de penetrar o social e permanece em êxtase de aceitação... logo após vem o instinto, a necessidade de pertencimento existencial e profundo. Estou no limiar destas vontades e nada me apreende. Ao passo que se chega ao que se é, morre-se. Ao passo que o homem torna-se homem, ele morre. A palavra seca sua mutualidade e o homem não é. Nasce e morre e se vive com a interrogação do ser no próprio ser. Se nomeio uma galinha, ela estaciona seu estágio de ser. Limitou-se o ser a uma estrutura do ser. Quando se diz, o algo observado morre, crista e morre. Pois então, entendes meu modo de ser selvagem. Os animais apenas ouvem e se vão. Se alimentam e se vão...  Vão a beira dos segredos, a beira dos desejos, a beira dos homens, a beira de tudo que não é e então estão sendo dissabores soturnos que suplica o silêncio e o estar das coisas. Se é e então morre-se.
Ouve enquanto troto, sem alarde... caminho de um lugar a outro sem a necessidade de pertencer e ficar. Esgotar a figura do ser no vivente. Este meu segredo desvela sua figura e me guarda na leveza dos sonhos empoeirados que levitam sobre os raios da tarde sem fim. Por enquanto, fique a beira-mar, que estarei a beira de tudo que fostes e não és!
Quero, L. R.

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