terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Certeau e a questão da subjetividade na pesquisa histórica

             “O que fabrica o historiador quando faz história?” (CERTEAU, 2000, p.65). Um historiador é alguém que produz textos. Mas, para esta fabricação se faz necessário dar importância a três questões: o lugar de produção do texto, a prática (procedimentos de análise) e a construção deste.  Da combinação deste três elementos é que se faz a operação histórica. A História não está separada da realidade da qual trata. É necessário analisar o que o discurso não fala. (p.65-66)
            O real já passou, portanto o discurso não é o fato em si, mas sim o resultado de uma pesquisa.  Sendo o historiador o mesmo produto do que estuda, já que este trabalha com a história dos seres humanos, o discurso histórico não é neutro. Caída a idéia de “verdade”, tirada do modelo positivista, a objetividade cientificista do século XIX, fica entendido que a subjetividade do autor tem grande importância na interpretação do objeto que se estuda. O fato existe concretamente, é a partir dele que vem a interpretação, feita por um sujeito situado em um lugar e dotado de uma prática e escrita.
A pesquisa histórica se relaciona com um lugar de produção, estando então, sujeita a uma particularidade (p.66). O lugar de produção é onde o historiador vive com seus pares, é a instituição onde este se localiza. Esta instituição social é dotada de uma linguagem científica: “...cada disciplina mantém sua ambivalência de ser a lei de um grupo e a lei de uma pesquisa científica” (CERTEAU, 2000, p.70). Segundo Certeau, a instituição torna possível e determina uma doutrina, portanto, para analisarmos um discurso histórico temos que ter em mente que ele depende de um lugar. A pesquisa histórica e seu conjunto de práticas, se dá através de diálogos, o estudo de História é específico e coletivo: “É o produto de um lugar” (CERTEAU, 2000, p.73). A partir do momento em que o fato é pretérito, o que o historiador faz são interpretações em cima deste acontecimento.
Sabendo da subjetividade do ser humano, e que o historiador e sua prática estão conectados a uma instituição, podemos afirmar que não existe neutralidade na pesquisa Histórica. Também não existe uma verdade universal, visto que fazemos interpretações em cima dos fatos, portanto o que existe são diversas afirmações. ‘A história não começaria senão com “a nobre palavra” da interpretação...’ (CERTEAU, 2000, p.78).
Assim como o historiador está ligado a um lugar social, a sua prática também está. Cada historiador trabalha de acordo com seus métodos. Ele transforma produções sociais em objetos de história (p.80). Portanto, se a prática histórica transforma, reorganiza e produz, será inútil um trabalho em que o historiador já possui as respostas de sua pesquisa: “Quando o historiador supõe que um passado já dado se desvenda no seu texto, ele se alinha com o comportamento do consumidor. Recebe, passivamente, os objetos distribuídos pelos produtores.” (CERTEAU, 2000, p.80). Sem problematização não há pesquisa.
A História se articula, movimentando entre a cultura e a natureza, transformando um objeto em documento. A História produz documentos. O estabelecimento das fontes também se dá através da relação com o lugar, um aparelho de pesquisa e técnicas. O trabalho científico além de fazer falar o que ainda estava adormecido em uma documentação, deve também usar de técnicas transformadoras (p.82-83). Portanto, podemos dizer que a constituição de uma pesquisa, não é “uma classificação do ontem” (p.83), mas sim, uma ação de técnicas transformadoras. Mas, no texto vemos um limite claro: “Enquanto a pesquisa é interminável, o texto deve ter um fim...” (CERTEAU, 2000, p.94)
            A operação de localizar o texto, para entender sua historicidade e a de seu autor, esta articulação de “filtragem” faz com que possamos, talvez, alcançar a objetividade de uma pesquisa, tornando-a intersubjetiva.



Leitura: CERTEAU, Michel de. A operação historiográfica. In: A escrita da história. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000.
Produção baseada em anotações feitas em casa durante os dias 10, 17, 18 e 19 de agosto, e durante as aulas de Historiografia dos dias 12 e 19 de agosto de 2013, ministradas pela Prof.ª Dr.ª Patrícia Furlanetto.

Teicianne M. Freitas.

sábado, 15 de fevereiro de 2014


                      A Janela


Uma lua ao fim da tarde. 
Silêncio debruçado sobre minha janela.
E eu...
Entre a lua e a janela.



Minhas mazelas...
Notas soltas na face da brisa

Em busca de repouso e eu, em busca dela.


Ela, a lua
Eu, a janela....



QUERO, Lucas Ramon.