“O que fabrica o historiador quando faz história?” (CERTEAU,
2000, p.65). Um historiador é alguém que produz textos. Mas, para esta
fabricação se faz necessário dar importância a três questões: o lugar de
produção do texto, a prática (procedimentos de análise) e a construção deste. Da combinação deste três elementos é que se
faz a operação histórica. A História não está separada da realidade da qual
trata. É necessário analisar o que o discurso não fala. (p.65-66)
O real já passou, portanto o
discurso não é o fato em si, mas sim o resultado de uma pesquisa. Sendo o historiador o mesmo produto do que
estuda, já que este trabalha com a história dos seres humanos, o discurso
histórico não é neutro. Caída a idéia de “verdade”, tirada do modelo
positivista, a objetividade cientificista do século XIX, fica entendido que a
subjetividade do autor tem grande importância na interpretação do objeto que se
estuda. O fato existe concretamente, é a partir dele que vem a interpretação,
feita por um sujeito situado em um lugar e dotado de uma prática e escrita.
A pesquisa histórica se relaciona com um lugar de produção, estando
então, sujeita a uma particularidade (p.66). O lugar de produção é onde o
historiador vive com seus pares, é a instituição onde este se localiza. Esta
instituição social é dotada de uma linguagem científica: “...cada disciplina
mantém sua ambivalência de ser a lei de um grupo e a lei de uma pesquisa
científica” (CERTEAU, 2000, p.70). Segundo Certeau, a instituição torna
possível e determina uma doutrina, portanto, para analisarmos um discurso
histórico temos que ter em mente que ele depende de um lugar. A pesquisa
histórica e seu conjunto de práticas, se dá através de diálogos, o estudo de
História é específico e coletivo: “É o produto de um lugar” (CERTEAU, 2000, p.73).
A partir do momento em que o fato é pretérito, o que o historiador faz são
interpretações em cima deste acontecimento.
Sabendo da subjetividade do ser humano, e que o historiador e sua
prática estão conectados a uma instituição, podemos afirmar que não existe
neutralidade na pesquisa Histórica. Também não existe uma verdade universal,
visto que fazemos interpretações em cima dos fatos, portanto o que existe são
diversas afirmações. ‘A história não começaria senão com “a nobre palavra” da
interpretação...’ (CERTEAU, 2000, p.78).
Assim como o historiador está ligado a um lugar social, a sua prática
também está. Cada historiador trabalha de acordo com seus métodos. Ele
transforma produções sociais em objetos de história (p.80). Portanto, se a
prática histórica transforma, reorganiza e produz, será inútil um trabalho em
que o historiador já possui as respostas de sua pesquisa: “Quando o historiador
supõe que um passado já dado se desvenda no seu texto, ele se alinha com o
comportamento do consumidor. Recebe, passivamente, os objetos distribuídos
pelos produtores.” (CERTEAU, 2000, p.80). Sem problematização não há pesquisa.
A História se articula, movimentando entre a cultura e a natureza,
transformando um objeto em documento. A História produz documentos. O
estabelecimento das fontes também se dá através da relação com o lugar, um
aparelho de pesquisa e técnicas. O trabalho científico além de fazer falar o
que ainda estava adormecido em uma documentação, deve também usar de técnicas
transformadoras (p.82-83). Portanto, podemos dizer que a constituição de uma
pesquisa, não é “uma classificação do ontem” (p.83), mas sim, uma ação de
técnicas transformadoras. Mas, no texto vemos um limite claro: “Enquanto a
pesquisa é interminável, o texto deve ter um fim...” (CERTEAU, 2000, p.94)
A operação de localizar o texto, para entender sua
historicidade e a de seu autor, esta articulação de “filtragem” faz com que
possamos, talvez, alcançar a objetividade de uma pesquisa, tornando-a intersubjetiva.
Leitura: CERTEAU, Michel
de. A operação historiográfica. In: A escrita da história. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2000.
Produção baseada
em anotações feitas em casa durante os dias 10, 17, 18 e 19 de agosto, e
durante as aulas de Historiografia dos dias 12 e 19 de agosto de 2013, ministradas pela Prof.ª Dr.ª Patrícia Furlanetto.Teicianne M. Freitas.