quarta-feira, 31 de julho de 2013

Valsa de Náiade


As gotas de água
Tocam ao cair da fonte
Uma doce melodia.
E Náiade dança,
Com passo estonteante
E pureza de criança,
A música dos dias.

Alysson Garcia"


Uma Náiade, de John William Waterhouse (1893)


segunda-feira, 29 de julho de 2013

Dose de real presença

Ele queria o presente. Agora ele clamava pelo que era real. Queria muitas doses de realidade! Será que o que sentia era real, ou eram somente fantasias derivadas de gestos e olhares soltos de outrem? Tudo ali existia? Será que sentia só? Era o sentimento unilateral? Não sabia. A profundeza do olhar, de duração de alguns segundos, a sublimação deste, seria subliminar? Não sabia! Será sonho? Segurando o papel perguntou a si mesmo se o que escrevera era onírico, se era só um desejo irrealizável. Então, calmamente, leu para o nada que havia em volta, como se encenasse uma peça teatral. Como se lesse frente àquela que admirava. Como se não fosse indireto.

"Velando o desejo em sono,
Tal qual faz a lua com a noite,
Despertei-me
Com um convite.

Vindo de dona tal qual Afrodite,
Prontamente afirmei.
Deveras,
Tão contente fiquei
Dona que me embebedaste
Com atributos dela
e de outros deuses.

Porém esqueci, com a euforia
De perguntar com quem iria.
Se somente a mim o convite servia.
Ah! Que delírio
A solidão de sermos somente nós."

Terminado, nada descoberto, a não ser que era um péssimo ator e que ainda clamava pelo presente. Seria a pouca correspondência imaginação?  Interrogação?

Só que no presente, a presença que almejava não, ali, estava.
E ainda sonhava , vagando pelo quarto tal qual  borboleta impedida de voar.
Trocava de gênero para desfazer o mistério que, afinal, nem era tão mistério assim.
 


Teici Miranda,
julho, 2013.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Caminhada

... ... ...
Passo... passo... passo...
passo. passo. passo.
passo; passo; passo;
passo, passo, passo,
passo passo passo
passo, passo, passo,
passo; passo; passo;
passo. passo. passo.
Passo... passo... passo...
... ... ...


Alysson Garcia"

Rubra Alma


Caminhando pelas vielas,
      Via-se o sol a repousar-se sobre o horizonte,
      Levando consigo minhas indulgências,
      Rompendo o ínfimo perverso que habita em mim.
      A merce da própria sorte, 
      Deixei-me acalentar pelas estrelas,
      Refutar minha alma até a lua.


QUERO, Lucas Ramon

Perspectiva

( ... ) 
" Tua velocidade desloca mundos e almas.
Por isso, quando passaste,
Caiu sobre mim sua violência 
E desde então, alguma coisa se aboliu.

Guardo uma sensação de drama sombrio,
Com vozes de ondas lamentando-me.
E a multidão das estrelas avermelhadas,
Fugindo com o céu para longe de mim."
 ( ... )

Cecília Meireles.

Devaneios


Rabisco em um papel meus devaneios,
Os coloro com doses de pura insanidade,
Debruço-me sobre seus passos,
Deixados em nuvens longínquas,
E te falar de verdades absolutas,
Já não mais se faz necessário.


QUERO, Lucas Ramon.


Framboesa


Foi-lhe impossível pensar ou dizer algo quando de cima, do céu, ou não se sabe de onde veio uma pedra que a atingiu na cabeça. O ferimento era tão grave que ela pareceu não resistir e estirada no chão, foi envolvida por uma poça de liquido rubro.
“Meu Deus!”, clamou alguém que aproximou-se da mulher, o que foi suficiente para atrair dezenas de pessoas. “Chamem a ambulância!”, “ou a funerária!”, gritavam vozes perdidas em meio a multidão. Mas as perguntas e palpites foram pausados quando um dos homens que estavam mais próximos do cadáver sentiu um aroma muito agradável vindo do mesmo. Agachou ao lado da estirada e molhou o indicador na poça que rodeava a cabeça da falecida. Levou o dedo até próximo ao olfato e sentiu o aroma. Aquele líquido exalava “Morango!”, gritou o homem. Todos apavoraram-se. Como poderia o sangue de alguém ter cheiro de fruta?
O povo se aproximou e de um em um deram sua opinião: “Isso não é morango, e sim cereja!”, “Não, não, é uva, estou certo disso”, “Maçã, tem aroma de maçã!”. As pessoas discutiam e alguns travavam até brigas defendendo o aroma. Até que em algum momento chegou uma ambulância. Um médico desceu do carro junto a enfermeiros apressados que carregavam uma maca. Logo souberam do conflito que causara o sangue da jovem. Todos abriram espaço quando este se aproximou. Ajoelhou-se. Todos aguardaram apreensivos; afinal ele era médico e poderia dar um parecer mais certo e específico. Levou o indicador levemente molhado até a boca. Fechou os olhos e degustou com cautela. Com os lábios avermelhados pelo suco então se pois a gritar o que espantou a população: “É framboesa, é framboesa!”.


Alysson Garcia”

Dia de Vênus


Convido-te ao futuro

Convido-te a louvar Dioniso
Convido-te a dançar com as ninfas
Convido-te a me escutar, em teu ouvido
Cantando "Cupido"
Desafio-te a ficar só
E em um futuro próximo, estar em mim.

Convido-te ao passado

Convido-te a me (re)olhar durante um filme
Ou quando todos os olhos atentos a algo,
teus olhos vaguearem em mim.
E eu assim, talvez a corar,
Olhar-te e sorrir,
e voltar-me a atentar
ao que os outros atentam.
Desafio-te a me convidar novamente.

Teici,
26, de julho de 2013