Foi-lhe impossível
pensar ou dizer algo quando de cima, do céu, ou não se sabe de onde veio uma
pedra que a atingiu na cabeça. O ferimento era tão grave que ela pareceu não
resistir e estirada no chão, foi envolvida por uma poça de liquido rubro.
“Meu Deus!”, clamou
alguém que aproximou-se da mulher, o que foi suficiente para atrair dezenas de
pessoas. “Chamem a ambulância!”, “ou a funerária!”, gritavam vozes perdidas em
meio a multidão. Mas as perguntas e palpites foram pausados quando um dos
homens que estavam mais próximos do cadáver sentiu um aroma muito agradável
vindo do mesmo. Agachou ao lado da estirada e molhou o indicador na poça que
rodeava a cabeça da falecida. Levou o dedo até próximo ao olfato e sentiu o
aroma. Aquele líquido exalava “Morango!”, gritou o homem. Todos apavoraram-se.
Como poderia o sangue de alguém ter cheiro de fruta?
O povo se aproximou e
de um em um deram sua opinião: “Isso não é morango, e sim cereja!”, “Não, não,
é uva, estou certo disso”, “Maçã, tem aroma de maçã!”. As pessoas discutiam e
alguns travavam até brigas defendendo o aroma. Até que em algum momento chegou
uma ambulância. Um médico desceu do carro junto a enfermeiros apressados que
carregavam uma maca. Logo souberam do conflito que causara o sangue da jovem.
Todos abriram espaço quando este se aproximou. Ajoelhou-se. Todos aguardaram
apreensivos; afinal ele era médico e poderia dar um parecer mais certo e
específico. Levou o indicador levemente molhado até a boca. Fechou os olhos e
degustou com cautela. Com os lábios avermelhados pelo suco então se pois a
gritar o que espantou a população: “É framboesa, é framboesa!”.
Alysson Garcia”